O que eu achei de Life is Strange

22:08


Pra mim não parecia fazer sentido chamar isso de uma "análise", nem uma "resenha", nem uma "crítica". Eu não sou especializado em jogos eletrônicos, eu não tenho um conhecimento profundo deles, mas tem coisas sobre as quais simplesmente não podemos não falar. E Life is Strange é uma dessas coisas.

Games têm uma lógica própria e toda uma série de características a serem levadas em contas, e muitas delas eu vou ignorar sumariamente. Eu sou um gamer casual, gosto de jogar Rayman e coisas do tipo para descontrair. Vez ou outra eu vou mais fundo e jogo algo como Red Dead Redemption, mas em geral eu fico no básico. O que me interessa mesmo são as histórias.

Essa é a graça do game: ele consegue incorporar o jogador de uma maneira muito orgânica para dentro da história - afinal de contas, assumimos o lugar do personagem principal, e tudo que acontece a ele ou ela está acontecendo, metaforicamente, a nós mesmos. Então é fantástico quando um game consegue incorporar o jogador e ainda por cima contar uma história boa. Em alguns casos, como em Bioshock Infinite, a história não é somente boa - é fantástica. E o mesmo acontece no game sobre o qual vou falar agora.

Acontece que Life is Strange não é um jogo comum; ele é classificado como algo tipo "narrativa interativa". Tecnicamente não ocorre ação física. A personagem principal, Max Caulfield, nem mesmo pula. Então aquela sua vontade louca de simplesmente pular por cima de um obstáculo no cenário não passa nunca de uma vontade. Se for possível passar por cima do obstáculo, vai aparecer uma opção. Se não, você simplesmente tem de se contentar que ela não pula. Nunca.

(Pensando bem, quantos de nós costumamos pular na nossa vida corriqueira? Eu quase nunca pulo. Tem gente que não faz nenhum tipo de exercício, mal caminha. A vida dessas pessoas não teria botão de pular, também.)

E isso que está entre parênteses logo acima é justamente o que caracteriza o jogo: trata-se de uma trama que fala principalmente sobre a vida. Não sobre uma distopia, ou sobre o futuro longínquo, naves espaciais, o velho oeste, uma cidade voando nas nuvens; é a história de uma jovem que recém entrou na faculdade e tem de lidar com problemas comuns e rotineiros.

Tirando o fato de que ela viaja no tempo.


Eu imagino até que seria possível fazer um jogo como esse sem a viagem no tempo, mas não seria tão legal, certo? Afinal de contas, viajar no tempo (e poder apertar o gatilho do controle para simplesmente mudar o rumo de uma conversa) deixa tudo mais interessante.

A história começa com Max indo ao banheiro e vendo Chloe - que ela descobre, depois, ser uma antiga amiga de infância sua, que ela não reconheceu por conta dos cabelos azuis - ser morta por Nathan - um playboy da faculdade - com uma arma de fogo. No momento em que isso acontece, Max descobre que consegue desfazer a morte de Chloe e simplesmente voltar no tempo.

São os desdobramentos disso que guiam toda a trama. O jogo é dividido em cinco partes, e a primeira está de graça pelo menos na loja do Xbox 360! Eu já tinha interesse, e isso me incentivou a baixar e experimentar. A primeira parte é bastante trivial, mas logo no começo vemos um tornado gigantesco se aproximando da cidade em uma visão, o que significava que o game tinha potencial. Comprei o Season Pass (que dá acesso a todos os episódios) e joguei o restante.

O primeiro episódio, como eu disse, é bastante simples, apresentando a personagem e o poder de viajar no tempo, além de as outras personagens e os (inúmeros) conflitos que compõem a universidade de Blackwell. E os temas são bastante contemporâneos e, em muitos casos, pesados. Ao longo de todo o jogo há reflexões sobre bullying, depressão, eutanásia, abuso e outros assuntos delicados, que são tratados de maneira respeitosa e capaz de realmente mexer com o jogador.


Os episódios seguintes lidam com questões profundas de uma maneira perturbadora (mas bem interessante): as escolhas do jogador moldam o jogo. Há escolhas que não mudam muito o resultado do destino, mas algumas fazem muita diferença. Todas as escolhas significativas que se toma fazem com que uma borboleta apareça no canto da tela, junto com "Isso terá consequências...". Depois de um tempo, você começa a se apavorar toda vez que isso aparece.

Dois pontos da narrativa são particularmente tocantes. O final do segundo episódio apresenta uma situação chocante, na qual simplesmente não se pode voltar no tempo e é necessário lidar com nossas decisões, depois de muito tempo agindo tranquilamente, imaginando que nada é definitivo e é só voltar no tempo e mudar as escolhas. Outro momento marcante foi o começo do quarto capítulo, capaz de me fazer encarar as duas opções de escolha na tela e fazer chorar.

Não há como falar muito sobre Life is Strange sem soltar spoilers, e eu acho que o melhor que se pode fazer, no caso desse game, é jogar sem saber muito a fundo do que se trata ou para onde ele vai se encaminhar. Por mais que o ponto de partida seja bem básico, a história vai se desdobrando de maneiras inesperadas e surpreendendo-nos de maneira comovente e profunda. Há momentos de alegria, mas principalmente alguns em que você simplesmente vai sentir seu coração apertado e sem alternativa.

Life is Strange é um jogo sensacional, não tanto pelas suas características como game em si, mas como uma história e uma narrativa da qual podemos participar e nos identificar. Você se apega à trama e às personagens, e tudo que acontece a elas parece ser com alguém próximo. É um jogo para terminar e ficar encarando os créditos por muitos minutos, só pensando no que se passou e nas nossas próprias decisões em nossa vida. O que faríamos, se pudéssemos voltar no tempo e mudar nossas histórias?

A vida é estranha, mesmo...

---

Postado pelo Fabio

Leia também

0 comentários

Skoob do Fabio

Skoob da Ina

Obrigado pela visita! :D