Resenha: Caiu do Céu, de Heidi W. Durrow

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Eu li esse livro há um tempo já, mas como realmente me encantei, achei por bem trazer pra vocês um pouco mais sobre ele.
Esse é um daqueles livros que a gente compra mesmo sem conhecer por achar a capa bonita ou se interessar pelo título. Nesse caso, foi pelo título, pela capa e pelo preço: eu paguei 10,00 nele haha Sim, era uma feira de livro e tinham esses livros maravilhosos com preços mais maravilhosos ainda, então imaginem a felicidade da criança aqui quando viu um estande só de livros por 10,00 \õ

Então, mesmo assim, o livro me surpreendeu positivamente. Eu realmente não esperava que a história dele fosse essa, o que me encantou. Além disso, a edição gráfica dele é uma graça, com detalhes lindos e delicados a cada entrada de capítulo, e no início e no fim do livro.

O livro traz um mistério que só se descobre no decorrer do livro, o que inclui a explicação do título, também. Esse mistério muda toda a forma como o leitor enxerga a história e a protagonista.

Falando sobre a história, Caiu do Céu é narrado por diferentes personagens. Isso, muitas vezes, atrapalha um pouco a compreensão, já que, possivelmente, o leitor esquece o que o personagem anterior havia narrado. Mas, nesse caso, eu não percebi problemas com essa escolha. Pelo contrário, acredito que essa diversidade enriqueceu a narrativa, dando ao leitor a visão de personagens importantes para o fechamento da história.

A narração, portanto, fica a cargo da personagem principal, Rachel, e de outras 5 personagens: Nella, mãe de Rachel e responsável pelo drama familiar vivido pela protagonista; Laronne, ex-patroa de Nella e amiga da família; Roger, pai de Rachel, que só a visita quando ela está no hospital, e desaparece quando ela precisa; Jamie, testemunha do acidente pelo qual Rachel passa e que, mais tarde, vem a se tornar Brick.

Rachel é uma menina mestiça. Sua mãe é dinamarquesa e seu pai é negro. Sua mistura é diferente aos olhos de muita gente, e ela costumava viver em um ambiente em que era mais bem aceita. Após uma tragédia familiar, porém, ela acaba tendo que se mudar para a casa de sua vó, a única familiar que lhe restou, além de seu pai, que não apareceu senão quando ela estava no hospital. Ela é uma personagem muito bem construída. Mesmo após passar por tantos percalços na vida, ainda tem personalidade e força para encarar muitas outras dificuldades que se apresentam.

Sua aparência surpreende algumas pessoas que consideram não existir mulata de olhos azuis, o que a personagem acaba compreendendo como algo positivo, sem captar o sentido dramático e preconceituoso dos comentários. Esse preconceito é velado em algumas locais que ela frequenta, e ela não compreende o motivo das pessoas possuírem opiniões distintas sobre ela. Sua mistura é única, e a torna única também. Esse preconceito só se torna mais perceptível quando ela narra as diversas formas pelas quais ela era chamada.

Mesmo com todas as questões tradicionais das fases pelas quais Rachel passa, a história sempre volta para o drama de sua família. O namorado de sua mãe também aparece na história querendo saber o que aconteceu; Brick acaba nunca mais encontrando a mãe a partir do momento que decide ir atrás de Rachel; a ex-patroa da mãe de Rachel fica intrigada com o que aconteceu e nunca esquece o fato; e o pai de Rachel não aparece mais, mas ela acaba encontrando alguns objetos pessoais dele, incluindo uma carta para sua vó, que explica seu sumiço.

Com o tempo, Rachel perde sua tia, irmã de seu pai, mas mantem contato com o antigo namorado dela, o qual acaba sendo seu "primeiro amor", mesmo sem ter idade para um relacionamento com ele. Após isso, ela busca novas amizades, novas companhias, e acaba conhecendo o lado negativo das pessoas e a questão das drogas e do álcool.

Conforme todas essas coisas acontecem, entendemos que ela só busca ser aceita, e isso a transforma em algo que ela não é, e esse é mais um dos pontos que a autora aborda com o objetivo de conscientizar para o fato de que devemos manter nossa personalidade não importa a situação, já que manter essa mentira faz com a personagem seja prejudicada.

Após acompanharmos o crescimento de Rachel, seus dramas e suas dúvidas, sem ter a mãe para apoiá-la em suas diferentes fases da vida, acabamos por compreender um pouco suas atitudes. Assim o livro é finalizado quando, depois de um longo tempo tentando se explicar para Rachel, Brick, o menino que a visitava todos os dias enquanto ela estivera internada no hospital, acaba revelando o passado de ambos, além de fazer uma confissão sobre a vida de Rachel que ela própria desconhecia. Esse segredo, a existência de um segundo irmão de Rachel, que morrera em um incêndio, e o fato de Brick ter cuidado dela junto de seu pai, é revelado em um momento que Rachel está decidida a fugir de casa, mas não o faz, pois Brick a convence de que a vida é muito mais do que aparências, e que seu pai estivera ao seu lado um dia.

Além das diferentes narrativas se complementarem, o livro traz uma delicadeza bastante significativa para tratar de assuntos polêmicos. O preconceito, questões de família, aparências, amizades... tudo isso é tratado de forma bastante suave, o que permite que o leitor realmente faça uma reflexão acerca de todos esses assuntos, podendo descobrir por si só o que considera certo e errado em todas essas questões.

O mistério que envolve Rachel é comovente, e a forma como ela se recorda da família morta é de deixar todos os leitores com os olhos marejados. Confesso que, assim que compreendi o que havia acontecido no passado de Rachel, fiquei bastante sensibilizada e pensei que seria um trauma bastante marcante, mesmo assim a personagem conseguiu passar por isso, não sem sequelas psicológicas, mas de uma forma positiva, sempre lembrando da mãe como alguém do bem, mesmo depois da escolha que ela fez. (Sim, eu não quero dar spoiller, pois isso tiraria toda a graça do livro, e eu quero que vocês leiam e se emocionem sem saber o que acontece hehe)

Caiu do Céu é um livro surpreendente. Foi uma grata surpresa pra mim quando percebi que não seria parecido em nada com o que eu havia imaginado. E é isso que faz a gente se apaixonar ainda mais pelos livros: essa potencialidade de nos surpreender, de nos mostrar aquilo que não pensamos, aquilo que acontece em muitas famílias, mas que não é assunto de discussões frequentes.

Espero, realmente, que vocês leiam esse livro. É lindo, mesmo, e traz muitas questões importantes, além de deixar o leitor reflexivo durante toda a leitura.