Resenha: Belleville, de Felipe Colbert

21:08


Quando eu era menor, sempre que assistia a qualquer filme, a parte que eu mais gostava costumava ser o começo. Aparentemente não há motivos para isso, mas quando eu começo a pensar mais a fundo, eu sei bem o porquê: eu gostava mesmo era do clima de paz e tranquilidade que apresentava personagens, lugares e situações supostamente corriqueiras, antes de qualquer coisa realmente significativa acontecer na trama.

É claro que não há nenhum motivo realmente lógico para eu gostar tanto disso naquela época, principalmente porque, sem uma força motriz para a trama, dificilmente ela existia pra  começo de conversa. Um filme ou livro só com coisas boas acontecendo não interessa ninguém, certo? Ninguém vai pro cinema pra ver o cara andando de carro; vai pro cinema pra ver ele explodindo! É ou não é?

Ainda assim, escrevendo essa resenha, é do meu costume de gostar de começos que eu lembro. Belleville é um romance adorável, com uma aura mágica leve, mas um clima agradável e bem aconchegante, daqueles que dá vontade de ler de novo só pra se sentir envolvido por ele outra vez. O Felipe Colbert soube construir seu mundo e suas personagens de maneira verossímil e muito orgânica.


Sim, eu estou me adiantando um pouco. Bom lembrar a respeito do que fala o livro: duas personagens principais separadas por 50 anos no tempo que se comunicam através de cartas. Lucius vai começar a cursar uma faculdade e precisa se mudar para a cidade onde fica o campus. Ele acaba em uma casa afastada, com um terreno bastante grande e uma construção esquisita nos fundos. 50 anos antes, Anabelle perdeu seu pai há pouco tempo e não sabe o que pode fazer para viver, ou meramente sobreviver.

Lucius acaba descobrindo que a construção nos fundos da casa é uma montanha-russa inacabada. Eventualmente, ele e Anabelle percebem que um recipiente enterrado nos fundos da casa, na fundação da montanha-russa, aparentemente é capaz de viajar no tempo. E, através de cartas que eles põem dentro do recipiente, eles começam a conversar - e, obviamente, a se apaixonar.

O próprio Felipe disse que o mote era parecido com o do filme A Casa do Lago, que eu não assisti. Mas eu conheço a sinopse e, realmente, e bem parecido! Ainda assim, a história criada pelo autor é, como eu já disse, adorável. A relação entre as duas personagens tem altos e baixos, brigas e todo tipo de variação. As cartas são boas de ler, e nós também ficamos esperando pela chegada delas, tanto quanto Lucius ou Anabelle.


Mas aí entra a questão que eu falei no começo dessa resenha: o fato de eu preferir começos de algumas histórias. É o caso de Belleville. O começo é tão bom, e monta a história de maneira tão competente, que dá vontade de continuar nesse clima até o final. Há alguns antagonistas pouco definidos, o que seria ótimo: eu gosto muito de personagens cinza, e ainda mais quando simplesmente não há vilão algum. O maior problema enfrentado pelos dois é justamente o distanciamento temporal.

Infelizmente, pela metade do livro, aparece um novo personagem que serve para gerar tensão, mas, também, muda completamente o clima da história. É claro que o simples fato de não terem como se encontrar fisicamente não seria suficiente para um livro inteiro, mas pareceu que o tio Lino de Anabelle foi inserido como um antagonista de maneira muito brusca. Subitamente tudo tinha mudado, e o livro ficou mais ágil e perigoso.

Isso é bom, mas também é um pouco chato. Eu estava gostando tanto do começo que a troca não foi tão bem-vinda assim. Ainda assim, funciona.



O que não funciona, especificamente, é o final. Ele faz sentido, sim. Ele é adequado. Mas não foi tão bem escrito quanto o restante do livro. A conclusão do livro parece muito apressada, corrida, como se o autor não conseguisse mais segurar a ânsia em terminar a história e tivesse acabado tropeçando nos próprios pés e cortando muita coisa que poderia ter sido melhor aproveitada.

Todas as cenas de ação devem ser dinâmicas, mas as do final de Belleville são meio demais. Quando você vê, chegou à última página e fica "O quê, terminou?". Talvez todo o final devesse ter sido revisado e reescrito para compensar a ânsia natural de qualquer autor de terminar um livro. Assim, quem sabe as tão-aguardadas cenas do encontro dos dois são simplesmente ignoradas.

De qualquer forma, Belleville é uma ótima história, muito bem escrita e narrada e com muito potencial. É uma pena que o final tenha sido tão corrido; ainda assim, o livro é altamente recomendado e de muita qualidade.

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Título: Belleville
Autor: Felipe Colbert
Editora: Novo Conceito
Nº de páginas: 304
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Nota: 3,6 de 5 estrelas




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Postado pelo Fabio

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2 comentários

  1. Ainda não conhecia o livro. Me pareceu interessante e envolvente, mesmo com os aspectos negativos, o que você soube colocar muito bem em sua análise. Parabéns pela resenha e pelo blog! Ganharam mais uma seguidora.
    Eu Sou Um Pouco De Cada Livro Que Li

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    Respostas
    1. Obrigado pelo seu comentário, Mirelle! O livro é muito valioso principalmente por se tratar de um autor nacional, você deve dar uma chance a ele. Cada um tem um ponto de vista sobre tudo, certo? :) Agradecemos por seguir o blog, e vamos acompanhar o seu! Abraços!

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