Resenha: Nós, os deuses, de Bernard Werber

18:08


Bernard Werber nos apresenta um livro cheio de mitologia e reflexões dos mais variados tipos, seguindo a linha de seus livros anteriores já publicados no Brasil.

Lá estávamos nós na Bienal do Livro do Rio de Janeiro desse ano, passeando pelo estande da Record descompromissadamente. Eu e a Inari olhávamos as mais diversas capas de livros e procurávamos descontos interessantes. Especificamente a Record estava com 20% de desconto para todos os livros do estande, mas isso não vem ao caso. O que vem ao caso é que a Ina pegou um livro e me mostrou.

Dei uma olhada meio por cima nele. À primeira vista ele não é muito chamativo. A capa é escura e tem um azul meio arroxeado em uma imagem mitológica no fundo, com o título em uma aplicação brilhante de algum tipo de hot stamp misturado com relevo. Sem entender direito o porquê de ela ter me mostrado esse livro em específico, estava prestes a devolvê-lo quando olhei o nome do autor: Bernard Werber. Senti um arrepio tão grande me percorrendo a espinha que fiquei com vergonha de não ter visto antes.

Não que esse nome devesse necessariamente fazer qualquer um se arrepiar. Mas funciona comigo. Os três livros de sua trilogia "O Império das Formigas", pra mim, são alguns dos melhores que já li. Lembro de lê-los no verão, deitado em uma rede na varanda, olhando para o chão e examinando as formigas que passavam. E lembro de ter gostado muito de cada um dos livros. Muito mesmo. Muito tipo esses livros mudaram minha concepção e visão de mundo.

Essa característica meio transcendental, capaz de fazer o leitor pensar e repensar suas concepções e certezas retorna em "Nós, os deuses". Assim como o ponto que eu mais gosto na trilogia das formigas: os capítulos escritos pelo personagem Edmond Wells.


Na trilogia das formigas, Edmond Wells não é presente, exceto por esses capítulos. São trechos supostamente retirados de um livro escrito pelo personagem: a Enciclopédia dos Saberes Relativo e Absoluto, que depois se desdobra em outros tomos. Esses trechos apresentam curiosidades, reflexões, relatos, geografia, história. Eu nunca soube se tudo o que consta nesses trechos é verdadeiro. Mas, mesmo não sendo, são ótimos e cumprem com o que se propõem: fazer o leitor pensar a respeito do que leu.

"Nós, os deuses" conta a história de Michael Pinson, que ainda não tenho certeza absoluta de quem é, aventurando-se no mundo dos deuses. Ele chega à ilha de Aeden depois de ser um anjo e, lá, precisa ir a aulas para aprender a ser um deus. Ele tem aulas com os deuses da mitologia grega, e convive com criaturas como centauros, ninfas, sereias e quimeras. Mas ele tem 143 colegas em suas aulas, e, na verdade, precisa competir com eles para se tornar um deus. Apenas um o será.

Ao mesmo tempo, há mistérios rondando a ilha de Aeden. Logo que chega, Pinson testemunha um deicídio. E os assassinatos seguem ocorrendo, matando alguns de seus colegas alunos-deuses. Além disso, no topo da montanha da ilha há uma luz brilhante, que todos se perguntam de que se trata - e que muitos creem ser o grande Deus. Enquanto estuda e vai às aulas, Michael se une a seus amigos teonautas para tentar chegar ao cume da montanha e terminar com o mistério.

Pode ter parecido estranho eu dizer que não sei quem é o personagem, mas é verdade. Está aí a principal falha do livro: não contar com seus antecessores. Existem dois livros que o antecedem: "Os Tanatonautas" e "O Império dos Anjos". Nestes, Michael e alguns parceiros decidem partir em uma jornada científica para descobrir a morte, e tornam-se anjos. Mas é o que eu sei. Porque os livros não existem em língua portuguesa, aparentemente. E o personagem cita passagens desses livros, e o leitor fica com um ponto de interrogação pairando sobre sua cabeça. "Do que é que esse cara tá falando?". A Record poderia ter lançado esses livros primeiro.

De qualquer forma, "Nós, os deuses" é uma leitura fluida, principalmente a partir da metade. É engraçado que, apesar de haver coisas acontecendo, o livro não é agitado. O leitor precisa se interessar pelos assuntos tratados por ele para realmente gostar da leitura. E esses assuntos envolvem a criação de um mundo do zero, partindo do mineral, passando para o animal e chegando ao ser humano, às civilizações e às cidades.


É por conta disso que eu gostei do livro. Há uma variedade enorme de civilizações, uma variedade enorme de povos. O autor consegue se desdobrar mesmo quando as possibilidades parecem ter terminado. É incrível acompanhar o advento dos povos mais diferentes, de inúmeras maneiras, e os esforços de seus respectivos deuses para guiá-los. Enquanto há povos pacifistas, há povos guerreiros e imperialistas. Enquanto há povos machistas, há os matriarcais, nos quais os homens são caçados e usados unicamente para procriação.

E, claro, tem as sequências escritas por Edmond Wells. Há uma alternância entre capítulos que fazem a história avançar e os trechos da Enciclopédia dos Saberes Relativo e Absoluto. E eu não sabia direito se queria mais era chegar no próximo excerto da Enciclopédia ou continuar com a história.

Se posso citar um ponto negativo, certamente é a estranha "falta de perigo" da trama. Mesmo que os alunos eliminados sejam transformados em criaturas mitológicas, os personagens não parecem muito preocupados com serem reprovados. Quando o protagonista é engolido pelo leviatã, ele aparenta estar agindo tranquilamente! Mas acho que isso é muito por conta do estilo do autor. Como eu disse, é uma leitura fluida, mas não agitada.

De qualquer forma, o livro com toda certeza vale a pena. Não acho que seja melhor do que qualquer um dos livros da trilogia das formigas, mas é fato que traz o mesmo viés filosófico, a mesma clareza de ideias capaz de fazer o leitor pensar a respeito de suas próprias ideias.

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Título: "Nós, os deuses"
Autor: Bernard Werber
Editora: Bertrand Brasil
Nº de páginas: 434
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Nota: 4 de 5 estrelas!


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Postado pelo Fabio

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0 comentários

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