O que aconteceu no primeiro livro, mesmo?

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Sabe quando você está há muito tempo esperando pra ler a continuação de um livro de que você gostou muito, e o desgraçado demora demais, demais, pra ser lançado? E aí, quando finalmente lançam, você pega ele na mão e se pergunta: "Mas o que aconteceu no primeiro volume, mesmo?". Pois é.

Provavelmente isso já aconteceu com você. Já aconteceu comigo, também. Inclusive, aconteceu de novo não faz muito tempo.

Lá estava eu, decidindo que ia ler o volume dois de uma série brasileira de que gosto muito, mas cujo primeiro livro eu tinha lido muito tempo atrás. Muito tempo atrás do tipo "eu lembro vagamente que essa personagem matou uma pessoa, mas eu não lembro muito bem do por quê. Ou talvez ela não tenha matado ninguém... ou talvez outra pessoa tenha matado". Fato é que o livro era um borrão na minha esquecida mente, e, por mais que eu tenha gostado, não queria necessariamente lê-lo de novo, antes de passar para o seguinte.

Decidi partir para a ação e ler o livro de uma vez. Certo, a história começava no mesmo ponto onde a anterior parou, mas o fez de uma maneira engraçada... como se ela nem tivesse parado. Como se realmente o livro fosse uma continuação direta, não um segundo volume. Do tipo "acho que o livro ficou muito grande, vamos dividir em tomos".

Mas não foi isso que aconteceu... era realmente uma continuação, um livro 2. Ok, tudo bem. Imaginei que certamente o livro faria uma reconstituição dos fatos, iria me lembrar do que aconteceu no primeiro volume para que eu não me sentisse tão perdido.

Fui avançando na história e nada dessa lembrança vir. Personagens novos foram apresentados sem que eu me recordasse muito bem dos antigos. Quando cheguei na metade do livro, já tinha me conformado de que realmente ia ter que tentar forçar a minha péssima memória. Só que a minha memória realmente é ruim. Então eu fiquei lá, lendo, mas flutuando no éter dos acontecimentos passados da série. Quando situações do primeiro livro eram citadas, eu ficava com um ponto de interrogação pairando acima da cabeça, tentando lembrar, sem sucesso.

Teria ajudado se, quando essas citações ao volume anterior apareceram, viesse uma rápida recapitulação... mas não. Ainda assim, eu li o livro até o final, e gostei dele, mesmo tendo preferido o primeiro volume. Ou, pelo menos, eu me lembro de ter gostado mais do primeiro, ainda que não saiba exatamente o porquê.

O que eu quero dizer com tudo isso é que acho que quando vem à tona o segundo livro de uma série (ou o terceiro, ou o quarto, ou o que for), o melhor seria se o autor percebesse quem nem todos os leitores têm memória de elefante e que provavelmente eles não se lembram tão vividamente assim da história. Afinal de contas, eu sou escritor e não lembro muito bem do que eu mesmo escrevi!

Um bom exemplo (ainda que manjado) de série que conta com uma breve recuperação do volume anterior no começo do livro é "Harry Potter". Não precisa ser um prólogo, ou um espaço determinado do livro chamado "Anteriormente, em Harry Potter...". Pode ser dentro da história mesmo!

Nesse caso, no começo de cada livro havia uma rápida lembrança de quem eram os personagens e o que havia acontecido antes. No livro 2, por exemplo, o personagem para em frente ao espelho e olha para si mesmo. Nisso, ele lembra da cicatriz e é explicado bem rápido o que ela é e o que a causou. É o suficiente pra dar um clique na cabeça do leitor e destravar as memórias da história. Adiante, no livro, quando um acontecimento do livro anterior é citado, ele é citado por inteiro. Não lembro de nada específico (o que não é de se admirar), mas se o episódio da luta com o troll no banheiro fosse citado, seria dizendo como aconteceu. Seria dito que o troll fora solto pelo professor Quirrell e que era uma distração para ele tentar roubar a Pedra Filosofal, mas que Harry e Rony salvaram Hermione da criatura e Snape impediu o professor de pegar a pedra. Isso já é o suficiente. Por outro lado, falar sobre "aquela vez em que eles nocautearam um troll" não ia ajudar muito.

Mas são muitos os livros nos quais isso não acontece... e não apenas no da série brasileira que eu li - que, por sinal, é muito boa. Há séries estrangeiras de sucesso que não recapitulam o livro anterior, também. E é claro que esse não é um exemplo a ser seguido.

Então fica a dica para todo e qualquer escritor que possa estar lendo isso: se for escrever uma continuação, que tal recapitular o primeiro livro? Afinal de contas, nem todo mundo tem memória boa. Tipo eu.

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Escrito pelo Fabio

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