Faz muito tempo que eu assisti pela primeira vez a adaptação de "O Jardim Secreto", de Frances Hodgson Burnett. Muito tempo mesmo. Lembro de que na época, ainda criança, eu adorei a história e o filme. E eu o assisti um sem-número de vezes. Quando vi que o livro estava na promoção, eu comprei e deixei no Kindle por um bom tempo antes de começar a ler.

Minha dúvida era se seria realmente interessante. Eu tinha medo de que o livro não correspondesse com as minhas expectativas, com aquela nostalgia boa que me toma cada vez que eu lembro do filme e da época na qual eu o assisti. Ficava pensando inclusive que talvez fosse bom na minha cabeça somente porque eu era inocente e talvez me satisfizesse com qualquer coisa. Quem sabe, agora, eu não visse a mesma graça na história que vi naquela época.

Ledo engano. Decidi começar a ler descompromissadamente, pensando que, afinal, eu já tinha lido praticamente todos os outros livros que eu tinha no Kindle. Então, já que estava lá, porque não dar uma chance? Eu dei, e não me arrependi.

Esse livro tem alguma coisa de especial que é difícil de classificar. Mas a melhor forma de descrever é dizendo que ele é, pura e simplesmente, muito inocente e ingênuo. E isso não é nem de longe uma característica negativa. Digo isso porque muitas vezes livros ingênuos começam a se tornar enfadonhos e irrealistas. Mas não aqui. Aqui, os personagens são bastante verossímeis, e há toda uma aura e graça permeando a história do começo ao fim. É algo muito especial.

De certa maneira, nos sentimos voltando à infância com a protagonista, Mary, o encantador de animais Dickon, e o supostamente corcunda Colin. Cada um deles é mágico à sua própria maneira, com suas motivações para serem quem são e próprias histórias. Mary nasceu na Índia e cresceu mimada, apesar de seus pais não serem presentes. Quando eles morrem devido a uma doença, ela é enviada para a mansão de seu tio, na Inglaterra.

Quando chega, Mary percebe que não há muito o que fazer no interior da mansão. Martha, uma das criadas, lhe diz que ela deveria sair e ficar ao ar livre. Apesar de ser uma menina sempre emburrada, magra e feia (é o que diz o livro), ela decide fazer isso e, pouco a pouco, ela se torna alguém melhor.

Ela ouve falar sobre um suposto jardim secreto, onde a esposa de seu tio costumava passar a maior parte de seu tempo e que foi o lugar em que ela morreu, depois de cair do galho de uma árvore. Sua morte fez seu tio entrar em uma espiral de depressão e desacreditar-se da vida. Tanto que ele acaba ignorando completamente seu filho e trancando o jardim por dez anos.


Obviamente o jardim acabaria vindo à tona. Mary faz amizade com o jardineiro e com um pintarroxo, um pássaro, que lhe mostra onde está enterrada a chave e onde fica a porta do jardim. Sem saber como fazer o jardim renascer depois de tanto tempo, ela pede a Martha ajuda de seu irmão, Dickon, que conhece tudo sobre a natureza. Eventualmente, eles acabam conhecendo Colin, que se crê doente e a caminho da morte, sempre trancado dentro da casa. E eles acabam auxiliando o garoto a perceber que sua realidade não é tão sinistra assim, e que há felicidade na vida.

"O Jardim Secreto" é uma história simplesmente linda. Eu não queria que ela acabasse, para poder continuar voltando a ela todos os dias. As descrições são maravilhosas, e é tudo tão sutil e belo que ficamos encantados com a possibilidade de existência de um lugar tão incrível e mágico. É realmente como voltar à infância. Não há grandes conflitos na história, mas não é necessário. É um livro que faz com que o leitor se sinta bem e feliz.

Se posso citar alguma coisa negativa, vou dizer que o livro tem um quase-nada de preconceitos, mas que, devido à época em que foi escrito, é razoavelmente compreensível. Felizmente são poucas passagens do tipo. Outra coisa negativa infelizmente foi a diagramação do e-book, feita pela editora Dracaena. Achei que seria muito difícil errar na diagramação de um e-book, mas o livro está repleto de frases pela metade, que continuam na linha seguinte, falas cortadas e outros erros que o fazem se perguntar se está lendo a fala de um ou outro personagem. É uma pena.

Ainda assim, é possível superar facilmente esses problemas devido à qualidade do livro. Ele é simplesmente fantástico e acho muito improvável que um leitor não seja capaz de se sentir bem com essa história. Mesmo o mais duro dos corações pode se amolecer com essa fábula.

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Título: "O Jardim Secreto"
Autora: Frances Hodgson Burnett
Editora: Dracaena
Nº de Páginas: 312
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Nota: 4 de 5 estrelas


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Postado pelo Fabio