Quantos livros você está lendo?

18:30


Sempre achei muito pretensioso da parte de alguns leitores essa mania de ficar dizendo que estão lendo dois, três, quatro, oito, noventa e cinco, trezentos e quarenta e sete livros ao mesmo tempo. Como se nós, meros mortais leitores quaisquer, não tivéssemos a capacidade de acompanhar um quaquilhão de narrativas simultâneas e acabássemos misturando todas as tramas. Então eu ficava lá, na minha, imaginando o reles e mero único livro que estava lendo e em como eu deveria estar lendo mais de um.

Mas aí o tempo foi passando e eu fui lendo um livro de cada vez, avançando lentamente nesses enredos e penando para terminar os mais densos, correndo com os mais leves. E, certo dia, quando percebi, havia três livros na minha mesa de cabeceira. E eu pensei: "Como isso foi acontecer?"

Teria eu me transformado em um daqueles pedantes leitores que se achavam superiores à massa de outros amantes de livros que não liam mais de uma história simultaneamente? Teria eu me rendido à pressão psicológica de que deveria fazê-lo para ser melhor aceito nas rodinhas de leitura, ou simplesmente queria parecer mais culto dando mais de um título para a pergunta-título deste texto?

A resposta era muito mais simples do que isso. Acontecera de maneira natural, e esses exemplares foram aparecendo devagar no meu criado-mudo, como quem não quer nada, mas ansiando para terem as páginas folheadas e seu conteúdo desvendado. Enquanto alguns dos livros eram mais difíceis e demorados de ler (vide o "S.", de J.J. Abrams e Doug Dorst, que ficou uns sete meses dividindo lugar com inúmeros outros livros), outros eram mais rápidos e ágeis (como "Mausoléu", do Duda Falcão, composto por contos instigantes e páginas ligeiras de se virar).

Quando eu enfim dei uma chance aos livros digitais (tanto por curiosidade e vontade em si quanto pela necessidade profissional de conhecê-los efetivamente e ser um leitor de e-books) e comprei um Kindle, a variedade de leituras aumentou ainda mais. E, quando eu vi, havia me tornado uma daquelas pessoas que enche o peito para listar as várias obras de literatura séria e compromissada que estavam lendo nos mais diferentes dispositivos e plataformas e põe pressão nos outros reles leitores para lerem mais do que elas.



Rotulações e generalismos à parte, é bom dizer que isso é uma grande bobagem. O mais importante a dizer é que ler mais de um livro ao mesmo tempo é, de verdade, uma maneira de ler mais e mais eficientemente.

Não que ler tenha de ser algo eficiente, certo? Afinal de contas, a gente faz por prazer!

Fato é que eu não queria levar "O Demonologista" para ler no ônibus municipal, porque eu poderia acabar machucando essa lindeza e partindo meu próprio coração se encontrasse qualquer parte do livro maculado por um vergão ou uma dobra. Para isso, o Kindle serve muito bem. Ele é pequeno, portátil e leve. Isso justifica a grande quantidade de riscos no meu e-reader, o que me preocupa bastante para quando quiser vendê-lo e comprar outro - dessa vez com luz de fundo.

Eu também não teria coragem de carregar o já mencionado "S." para a praia, perigando perder um dos anexos ou encher todo o livro de areia. Agora, um livro mais simples não seria um problema.

É claro que isso não justifica a minha irmã ter dissolvido o hot stamp do meu "Um Dia" na areia, deixando a chamada da capa: "Vinte anos, duas pessoas, -- ---". Mas... tudo... bem. Eu... acho que já superei.

*snif*

É, acho que superei. De qualquer forma, eu já deixei esse livro de herança pra ela.

Mas, no final das contas, eu decidi que ler mais de um livro ao mesmo tempo é uma coisa muito boa. Porque misturar tramas pode ser até bastante bacana, e treinar a memória para ver se me recordo direito de quem é quem no "Guerra dos Tronos" ao mesmo tempo em que tento não meter o Poirot como rei de algum castelo de Westeros. Faz parte.

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Postado pelo Fabio

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